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Algumas descobertas neurocientíficas têm contribuído para a compreensão dos mecanismos cerebrais que se relacionam com a recuperação funcional. Existem mecanismos neuronais que possibilitam que áreas do cérebro não afetadas assumam as funções das áreas danificadas (Neuroplasticidade). Este é, por si só um factor de proteção contra a demência e sua progressão.

 

As células destruídas após um AVC, por exemplo, não se regeneram. Porém, algumas vítimas podem recuperar algumas aptidões antes executadas, assim como pessoas que nascem surdas e usam a linguagem gestual é uma prova física de que o córtex auditivo recebeu uma outra função: foi recolocada para processamento visual.

 

A reabilitação ou recuperação de um tumor não seria possível sem um novo tecido assumir algumas das funções perdidas apesar do limite em que isso possa ocorrer (a idade pode representar uma limitação). 

 

O alemão Anton Räderscheidt (1892-1970) era um artista que sofreu de uma lesão cerebral na área responsável pela atenção visual após um acidente vascular cerebral. Esta patologia leva muitas vezes a que os indivíduos afectados ignorem o lado esquerdo do seu campo visual apesar de a conseguirem ver.

 

Após o seu acidente, Räderscheidt quando confrontado com a sua tarefa habitual de pintar, fez um auto-retrato em que não mostrou qualquer zelo por metado do seu rosto (imagem 2).

Após uma anomalia cerebral - Uma nova missão para as células

Imagem 1: Räderscheidt com saúde

Imagem 2: pintado dois meses após o acidente, omitindo metade do rosto

À medida que Räderscheidt foi recuperando, a percepção de si mesmo foi também gradualmente aumentando (imagens 3, 4 e 5).

Imagem 5: nove meses após o acidente, o seu auto-retrato preenche a tela

Imagem 4: neste auto-retrato a imagem está quase completa

Imagem 3: auto-retrato três meses e meio após o AVC

 

A plasticidade do nosso cérebro é extraordinária. 

 

Toda a aprendizagem envolve mudanças no cérebro pois as experiências estão constantemente a moldá-lo.

Räderscheidt certamente conseguiu um auto-retrato de tela completamente preenchida por nunca ter desistido da sua "arte de vida". O cérebro é, então, um reflexo das nossas experiências, fazendo-nos criar e sustentar a nossa própria identidade, mesmo em situações de patologia.

 

ABC's of the human body (1987). 1ªed., Selecções do Reader's Digest 

 

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