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Desorientação
A memória

"O meu pai passava a vida a dizer que tinha tido uma vida, mas acabava por nunca se lembrar de quem tinha sido. Então arranjei um "livro de visitas" e passei a pedir às pessoas que o assinassem. Descobriu-se assim que a pessoa-mistério, era a pessoa que tratava dele.

Havia noites em que ele nos acordava a tocar piano. Já não reconhecia os seus próprios filhos, mas ainda era capaz de tocar as peças mais difíceis. Nessas alturas eu desconfiava da minha própria sanidade mental."

 

"Por vezes o meu companheiro volta atrás no seu pensamento, à época em que ele ainda trabalhava, e fica ansioso com receio de chegar atrasado ao emprego. Ao princípio eu dizia-lhe que ele já não trabalhava, mas ele teimava e acabávamos a discutir. Por isso passei a dizer-lhe que está tudo bem, e que hoje ele não tem que ir trabalhar."

"A esposa do Sr. António costumava deixá-lo no Centro de Dia às 9 da manhã, e logo depois dela partir, ele vinha sentar-se ao pé da porta à espera que o viessem buscar. As funcionárias do Centro pensavam que ele se sentia infeliz no Centro, mas descobriu-se que ele simplesmente pensava que já devia ser hora de saída."

"O meu marido era um verdadeiro cavalheiro, mas agora pragueja como uma magala. Não é agressivo, mas diz nomes que nunca diria na frente de uma senhora. Primeiro fiquei chocada. Mas agora dei-me conta de que ele não se consegue controlar, e que não o faz de propósito. Ele olha para mim tão admirado e triste se eu ralho: não percebe que fez mal. Normalmente aviso as pessoas antes de o levar, e elas, de um modo geral, colaboram."

Não reconhecer pessoas nem objetos
Comportamento agressivo

Testemunhos dos cuidadores

A visão

"Quando a minha mãe começou a embater nas coisas e a chocar com os móveis, pensei que ela estava com problemas de equilíbrio. Comecei a preocupar-me sobre como faria se ela piorasse. Um dia, reparei que tinha receio de subir as escadas. O meu irmão pensou que talvez houvesse um problema de vista e levou-a a uma consulta. Estava certo. Agora ela usa óculos e está muito melhor. Ainda receia subir as escadas, mas eu ajudo-a e vamos instalar uma barra na parede oposta ao corrimão."

"Quando visitei a minha mulher no hospital, ela falou sobre mim e sobre coisas que fizemos juntos como se estivesse a conversar com outra pessoa. Isto entristeceu-me, mas ao mesmo tempo compreendi que não se esquecera de mim. Ainda se interessa por mim, mas já não me reconhece."

Perguntas repetitivas

"Ele costumava perguntar-me a mesma coisa vezes sem conta, o que por vezes me fazia perder a paciência. Perguntava normalmente quando chegava o autocarro para o Centro de Dia, o que era o jantar, coisas como estas. Agora tento recordar-lhe coisas conforme vou conversando e ponho notas na porta do frigorífico. Ainda faz perguntas, mas não tão frequentemente. Eu respondo ou aponto para a porta do frigorífico, o que permite que eu tenha mais paciência."

 Leitão, O.R. & Morais, M. Manual do Cuidador da pessoa com demência. 1ªed. em português, A.P.F.A.D.A. Lisboa, 1999

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